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“Filhos das drogas” podem ter danos graves
Os riscos do uso de álcool e outras drogas durante a gestação.
Há 13 anos, o professor Erikson Furtado, coordenador do PAI-PAD (Programa de Ações Integradas para Prevenção e Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade) da Faculdade de Medicina da USP, pesquisa os riscos do uso de álcool e outras drogas durante a gestação.
No ano 2000, ele e sua equipe cadastraram 449 grávidas que faziam uso de álcool e outras drogas, sendo que 100 delas tinham um consumo de risco. O grupo acompanhou a gestação, analisando o uso feito por essas mulheres. A partir de 2006, os pesquisadores começaram a resgatar essas crianças, para avaliar quais as consequências do uso feito na gravidez.
O número de crianças com problemas físicos ou comportamentais era tão grande que o professor criou um ambulatório no Hospital das Clínicas, onde presta atendimento mustidisciplinar a crianças e adolescentes com dependência química ou problemas decorrentes da dependência na gestação. Hoje, atende 86 adolescentes que foram acompanhados na barriga das mães, além de outros pacientes.
Erikson explica que a maioria das usuárias de risco usam o álcool atrelado a outras drogas, o que potencializa os danos para o bebê. O uso de drogas, principalmente do álcool, pode causar ao bebê más formações físicas, possíveis de serem diagnosticadas já no parto. “O bebê pode apresentar lesões na face, problemas renais, más formações ósseas”.
A “Síndrome de Abstinência Neonatal” é comum em bebês que foram expostos ao uso contínuo de álcool e outras drogas durante a gestação, principalmente o crack. “A criança já nasce muito inquieta, pois não está mais ingerindo a substância. Precisa de cuidados intensivos nas primeiras horas de vida”.
Os distúrbios de comportamento são as principais consequências do uso. “Geralmente são crianças inquietas, com dificuldade de interação, de comportamento agressivo, com dificuldades de aprendizado e que, quando adolescentes, podem ter uma iniciação precoce no uso de álcool e outras drogas”. Erikson diz que muitos de seus pacientes acabam seguindo o caminho do crime. “É comum que esses meninos tenham conflitos com a lei”.
Professor pede contracepção com orientação
Para o professor Erikson, é essencial a orientação das mulheres que receberão o anticoncepcional de longa duração. “Elas têm o direito de fazer o controle da natalidade, mas precisam estar em condições de aceitar ou não o método”.
Ele salienta que todo esforço é válido em orientar. “O esforço é válido considerando que a probabilidade de essas mães usuárias de drogas terem crianças com dificuldades é alta”.
Erikson explica que as primeiras semanas da gestação são as mais críticas. “As más formações físicas, na maior parte dos casos, acontecem nas quatro primeiras semanas, quando, algumas vezes, a mulher ainda não sabe que está grávida”. E finaliza: “Nossa bandeira é prevenir e tratar o problema”.
Fonte: A Cidade