30
set
A dependência química e os transtornos mentais são fenômenos complexos e que requerem tratamentos específicos que, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar, podem ter resultados bastante satisfatórios. O acompanhamento multidisciplinar envolve médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas, educadores físicos, entre outros profissionais.
‘O paciente dependente químico ou com algum tipo de transtorno mental possui necessidades e possibilidades terapêuticas diferentes, por isso o tratamento precisa ser individualizado e realizado por uma equipe multiprofissional eficiente, afirma Ana Cristina Fraia, psicóloga e coordenadora terapêutica.
De acordo com a especialista, a abordagem multidisciplinar possibilita mais autoconhecimento, elevação da autoestima, estímulo à percepção do meio afetivo que cerca o paciente e seu relacionamento com este meio. Assim é possível fazer com que o paciente entenda o motivo do seu tratamento, criando um vínculo com a equipe que será utilizado como instrumento para sua reabilitação social e familiar.
Uma das áreas indispensáveis no tratamento da dependência química e de transtornos mentais é a assistência social, que busca entender o paciente durante e pós-internação, sendo responsável por incluir a família no tratamento. ‘Fazemos a ponte entre o tratamento dentro e fora da clínica na medida em que, após a alta, a família possa oferece o apoio que garantirá a prevenção da recaída dos sintomas. O serviço social direcionará sua prática para os problemas sociais que cercam o paciente, entendendo-se estas problemáticas como: abandono, conflitos familiares, questões trabalhistas e previdenciárias’, explica Leda Locatelli, diretora terapêutica e assistente social.
De acordo com o Dr. Isidoro Cobra, psiquiatra, o ambiente onde acontece o tratamento de pacientes dependentes químicos ou com transtornos mentais também é importante. ‘Nosso objetivo é estabelecer e proporcionar um ambiente agradável e seguro ao paciente, fortalecendo um vínculo terapêutico para que ele possa aprender a se expressar mais adequadamente, diminuindo sua ansiedade e auxiliando-o a lidar melhor com suas frustrações e conflitos da vida diária.’
Envolvendo o trabalho da equipe multidisciplinar no tratamento de dependência química e transtornos mentais, a enfermagem também é importante, pois é a responsável por oferecer cuidados que visam proporcionar bem-estar físico e emocional ao paciente, verificando, por exemplo, o surgimento de qualquer efeito colateral da medicação. Ainda dentro da abordagem multidisciplinar, os terapeutas ocupacionais se destacam, auxiliando na recuperação da função humana do paciente, elevando o perfil das suas ações motoras e mentais. ‘Tratamos das doenças por meio de atividades em conjunto e individualmente com o intuito de promover o paciente na esfera biopsicosocial, ou seja, recuperá-lo em sua totalidade e fazê-lo se sentir bem novamente consigo mesmo, com sua família e na sociedade’, completa a terapeuta ocupacional Adriana Bernardino.
Fonte: Diário do Litoral
26
set
De todos os assuntos que preocupam os pais, o consumo de drogas com certeza é um dos mais graves. O psiquiatra e especialista em dependência química Dr. Gustavo Teixeira cita pesquisas que revelam que os jovens costumam experimentar álcool e tabaco por volta dos doze anos de idade, enquanto o uso de maconha e cocaína costuma acontecer entre os quatorze e quinze anos de idade. Outro dado assustador é a constatação de que a experimentação de drogas ilícitas por estudantes, excluindo-se álcool e tabaco, se situa em torno de 22%. Isso quer dizer que, na média, praticamente um em cada quatro adolescentes já experimentou algum tipo de droga ilícita durante a vida.
Mas como saber se o seu filho de fato está usando drogas?
De acordo com o psiquiatra, não existem regras, mas normalmente são observadas mudanças comportamentais comuns entre os jovens que iniciam o uso da droga. Uma das primeiras observações são as alterações de personalidade e de humor. “Esse adolescente pode passar a se apresentar constantemente irritado, com baixo limiar de frustração e impulsivo. Sintomas disruptivos como quebra de regras, brigas frequentes com os pais, comportamento irresponsável acompanhado de falta de motivação pelas atividades e baixa autoestima também ocorrem frequentemente”, explica ele.
Na escola pode haver perda de interesse, queda de rendimento escolar, atitude negativista, atrasos e faltas injustificáveis, problemas de disciplina, envolvimento com colegas usuários de drogas, grande mudança na aparência física, vestimentas e apresentação pessoal. Fora os sintomas comportamentais, também é importante observar os sintomas físicos, como fadiga, problemas de sono, dores de cabeça, enjoos, mal-estar, além da perda de cuidados com higiene pessoal ou abandono dos esportes que antes praticavam.
Fatores de risco
Segundo o Dr. Teixeira, o uso problemático de drogas está relacionado a uma série de características, sendo que quanto mais fatores de risco esse jovem tiver, maiores serão as chances de envolvimento com drogas. “Na verdade, a adolescência é uma fase complicada do desenvolvimento, onde aquela pessoa não é mais uma criança, entretanto ainda não se tornou um adulto. Um furacão de mudanças comportamentais e físicas ocorre no corpo e na mente dos adolescentes, mediado por uma descarga imensa e intensa de hormônios sexuais que passam a modificar completamente o corpo deles”, diz ele.
O psiquiatra explica que o jovem está buscando sua identidade, sua individualidade, fazendo novas experiências, questionando, duvidando e muitas vezes brigando e lutando por questões que julga importantes. Nessa fase o adolescente não aceita mais passivamente as determinações e orientações de seus pais, existe uma tendência de maior identificação com o grupo de amigos, são mais impulsivos, curiosos, mais aptos a seguir as opiniões dos colegas e todos esses fatores podem impulsionar o jovem a buscar novas experiências, sensações e prazeres.
Logo, a adolescência é uma fase complexa do desenvolvimento físico e mental pela qual toda criança irá passar e um dia todo esse conjunto de fatores irá agregar o que poderia se chamar de um “ambiente facilitador” para a experimentação das drogas. A facilidade com que as drogas são ofertadas no meio acadêmico, nas festas e nas próprias ruas, em bares e lanchonetes que vendem álcool e cigarros indiscriminadamente para menores de dezoito anos de idade, mesmo sendo proibido pela legislação federal, torna o controle ainda mais difícil. Segundo o psiquiatra, outro fator importante para o início do uso de álcool e drogas pelos adolescentes são as influências dos modismos. “A juventude contemporânea e nossa própria sociedade encaram o consumo alcoólico durante eventos esportivos, como Copa do Mundo, ou eventos sociais, a exemplo do carnaval, Réveillon ou outras festividades, como um comportamento normal, sendo praticamente uma regra obrigatória a presença de álcool nesses momentos”, diz.
Papel da família
O psiquiatra ressalta a importância do papel da família do jovem nessa fase de experimentações. O lar onde esse adolescente está inserido pode representar um fator de proteção ou de risco ao envolvimento com as drogas. O fator genético influencia: filhos de pais dependentes de álcool ou drogas possuem até quatro vezes mais chances de se tornarem dependentes quando comparados com filhos de pais não usuários de álcool e drogas. Os fatores ambientais também são levados em consideração. Logo, filhos vivendo em ambientes domésticos caóticos e doentes, onde convivem diariamente com pais alcoólatras, usuários de drogas, agressivos, violentos, negligentes, hostis, desafiadores e onde não há diálogo nem respeito mútuo, correm um risco maior de abusar de drogas e álcool na época da adolescência.
Por todos esses motivos, é importante a existência de uma família estável para o jovem, na qual um diálogo franco e honesto possa existir. “Uma criança que vive em um ambiente doméstico sadio e seguro, onde as normas e regras sociais sejam ensinadas por seus pais, conceitos éticos e morais sejam passados aos filhos para a formação de um jovem responsável, seguro de seus deveres e responsabilidades, sabendo lidar com a questão dos limites, dos problemas cotidianos, lidando com suas frustrações, recebe uma base importante e eficaz para evitar o envolvimento com as drogas”, diz o Dr. Teixeira.
Jovens com baixa autoestima, inseguros, tímidos, retraídos, desajeitados e que não conseguem se destacar nos estudos, nos esportes nem nos relacionamentos sociais são mais aptos ao envolvimento com as drogas, portanto a identificação precoce desses perfis psicológicos e comportamentais será de grande importância para a prevenção ao uso de álcool e drogas. Além desses perfis psicológicos, estudos também comprovam que jovens que apresentam transtornos comportamentais diagnosticados como depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtornos disruptivos do comportamento apresentam incidências mais elevadas de envolvimento problemático com drogas quando comparados com jovens sem esses diagnósticos. Portanto, o tratamento dessas condições concomitantemente com o trabalho de prevenção será de grande importância prognóstica para o desenvolvimento sadio do adolescente. Outras características comportamentais comumente encontradas em jovens com risco de uso de drogas incluem impulsividade, agressividade, níveis baixos de evitação de perigo e menor religiosidade.
Outro aspecto familiar importante de se observar é que aquele pai que acredita que simplesmente dizendo ao seu filho através de um discurso simplista e hipócrita que as drogas fazem mal, matam, está cometendo um erro educacional grave. “O jovem nessa complicada, inevitável e importante fase de desenvolvimento não irá tolerar imposições e determinações passivamente. Será muito mais fácil para esse adolescente dar ouvidos ao amigão que diz que o álcool lhe deixará relaxado, tranquilo e menos tímido para conquistar as garotas, por exemplo”, explica o psiquiatra.
O diálogo franco e livre de preconceitos será um bom mecanismo para a conscientização do jovem a respeito dos perigos das drogas e deve ser encarado como um grande desafio para pais, mães, familiares, professores, amigos e profissionais da saúde que estão em contato com esses jovens.
Dessa maneira pode-se afirmar que a “técnica” que muitos pais utilizam de manter seus filhos em verdadeiras “redomas de vidro” não funciona, pois é fato que o adolescente será exposto ao mundo das drogas. Seja na festa de amigos, no boteco da esquina da escola ou na saída de aula; sendo oferecida pelo colega de sala ou por conhecidos em eventos sociais, é certo que ele terá contato com as drogas. Se o jovem irá utilizá-la ou não, dependerá que quais ferramentas ele possui para julgar se deve ou não experimentá-las.
Como diagnosticar?
Se você desconfia que seu filho está usando drogas, o primeiro passo é tentar conversar com ele e investigar se sua preocupação procede. Caso o jovem confirme o uso, pedindo ajuda, ou caso negue, mas inúmeros indícios colaboram para uma ideia contrária, procure um médico psiquiatra especialista em dependência química ou em psiquiatria infanto juvenil de sua confiança para uma avaliação comportamental completa.
Nessa avaliação comportamental o adolescente deverá ser avaliado de uma maneira global, tentando identificar todos os sintomas suspeitos de envolvimento problemático com álcool e outras drogas, além de uma investigação de outros possíveis transtornos comportamentais que podem estar presentes. Testagens laboratoriais para drogas de abuso podem ser solicitadas durante a investigação. “Caso seu filho tenha utilizado uma droga, isso não significa necessariamente que ele seja um dependente químico. Ele pode estar realizando um uso abusivo da substância, sem ainda um prejuízo muito significativo, logo, quanto mais precocemente descoberto o problema, mais fácil será o tratamento e maiores serão as chances de recuperação do jovem”, finaliza o Dr. Teixeira.
Saiba 12 perguntas que todos os pais, familiares, amigos e professores devem responder sobre o comportamento atual do adolescente.
Elas podem servir de pistas na investigação de um possível envolvimento com álcool e outras drogas. Vale a pena lembrar que essas mudanças não são regras e não significam necessariamente que o jovem esteja envolvido com drogas, mas servem de alerta para uma possível investigação atenta de seu comportamento e atitudes.
✓ O jovem piorou sua aparência pessoal e seus hábitos de higiene?
✓ Utiliza roupas com slogans de apologia às drogas?
✓ Escuta músicas ligadas ao tráfico ou de apologia às drogas?
✓ Fala que fumar maconha ou beber não faz mal à saúde?
✓ Está fumando cigarro?
✓ Está chegando bêbado em casa?
✓ Está frequentando festas raves?
✓ Está dirigindo bêbado?
✓ Apresenta-se mentindo, roubando ou enganando outras pessoas?
✓ Tem se envolvido em brigas?
✓ Tem entrado em atrito familiar constantemente?
✓ Apresenta-se agressivo, revoltado ou nervoso?
Créditos: Gustavo Teixeira é médico psiquiatra infantil, palestrante internacional e escritor psico educacional. Professor visitante do Department of Special Education – Bridgewater State University. Mestre em Educação – Framingham State University. Curso de extensão em Psicofarmacologia da Infância – Harvard Medical School. Pós-graduado em Psiquiatria – UFRJ. Pós-graduado em Dependência Química – UNIFESP. Pós-graduado em Saúde Mental e Desenvolvimento Infantil – Santa Casa do RJ.
Fonte: Guia Montenegro