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Consumo de álcool na adolescência aumenta risco de dependência
O consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, cujo combate é o objetivo da Lei Antiálcool, aumenta as chances de desenvolvimento de alcoolismo na fase adulta. De acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizada este ano com base em entrevistas com 17 mil adolescentes do ensino médio de 789 escolas públicas e privadas de todo o País, um simples gole ou experimentação de bebidas antes dos 12 anos aumenta em 60% as chances de consumo abusivo de álcool no futuro. Segundo especialistas, além de prejudicar o desenvolvimento, a substância causa consequências comportamentais e alterações no sistema imunológico.
A pesquisa também constatou que, dentre os estudantes que afirmaram ter consumido algum tipo de bebida alcoólica na vida (82% dos entrevistados), 11% experimentaram antes dos 12 anos. Acostumado a atender casos de internação por alcoolismo cada vez mais precoces, o terapeuta holístico João Alberto Correia Maia conta que não existem níveis seguros de consumo de álcool na infância e adolescência. “A ingestão de bebidas, apesar de ser cultural, não deve ser incentivada pelos pais, até porque não se sabe se o jovem possui ou não predisposição para desenvolver a dependência”, afirma.
Proprietário de uma clínica para dependentes, João ressalta que as pessoas estão iniciando cada vez mais cedo no álcool. “Cerca de 90% dos pacientes que chegam para internação relatam ter ingerido álcool pela primeira vez antes da maioridade”, declara. Segundo ele, a substância afeta o sistema nervoso central, que não está totalmente desenvolvido até a adolescência. “As consequências são problemas comportamentais, como ansiedade e agressividade”, expõe. “Já houve casos de pacientes com dependência aos 12 anos”, exemplifica.
Também para a professora da disciplina de Saúde Coletiva do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Sorocaba, a infectologista em saúde pública Rosana Maria Paiva dos Santos, a ingestão precoce de álcool contribui para desenvolver a dependência cada vez mais cedo. “O consumo começa na casa, muitas vezes por influência dos próprios pais, e assim o hábito torna-se dependência, podendo evoluir até para uso de outras drogas”, diz. A atitude, que para ela representa a tentativa dos pais de controlarem a ingestão de bebidas, resulta em efeitos contrários. “As crianças e adolescentes passam a associar a substância a momentos agradáveis e o uso torna-se generalizado”, ressalta.
Um trabalho comunitário coordenado pela professora e desenvolvido pelos alunos de medicina confirma a iniciação precoce no álcool. “43% dos jovens entre 10 e 18 anos que atendemos já afirmaram ter experimentado bebida alcoólica”, destaca a médica. Feito há três anos, o estudo avalia crianças e adolescentes em áreas de vulnerabilidade social de Sorocaba, nos bairros Aparecidinha, Vila Sabiá, Habiteto, Nova Esperança e Vitória Régia. “Trabalhamos com a conscientização nessas regiões, a fim de evitar futuros problemas decorrentes do álcool”, finaliza, enfatizando a importância da prevenção.
Fonte: Cruzeiro do Sul