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jun

Tratar dependente de crack sem internação é impossível

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Entre os muitos caminhos possíveis para combater o crescimento devastador do crack nas cidades brasileiras, pelo menos dois são inescapáveis: 1 – é preciso combater o tráfico e os pontos de venda; 2 – é preciso tratar urgentemente os dependentes químicos.

Mesmo em condições ideais, o tratamento do crack é um caminho tortuoso e dificílimo para paciente, famílias e profissionais envolvidos. O comportamento do usuário de crack pode ser comparado ao de um animal em busca de alimento. “O dependente do crack ouve, mas não escuta. Vê, mas não enxerga. O mecanismo de atenção está totalmente voltado para obter a substância. Da mesma forma que um animal faminto, que só enxerga a comida, a única coisa que o usuário enxerga é o crack”, afirma Jaber, presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas.

Em clínicas particulares, o ciclo de tratamento é de aproximadamente 180 dias. Este período é o mínimo para assegurar o início da recuperação. E ainda assim as chances de sucesso na primeira internação são pequenas: só 30% dos dependentes que recebem tratamento apenas uma vez conseguem não voltar. A maioria precisa de sucessivas internações. Ainda assim, a vigilância deve ser permanente para o resto da vida.

O crack é uma substância com alto poder de causar dependência. Uma pessoa que experimenta e fuma quatro ou cinco vezes em um dia já se torna praticamente dependente. E o tratamento é mais difícil. É mais longo do que o de um dependente em cocaína, por exemplo. Em média, depois de 15 dias de desintoxicação, o usuário de crack precisa de quase 6 meses internado para conseguir desenvolver mecanismos psicológicos para evitar voltar à droga. É o tempo básico.

Dado o poder de criar dependência, é improvável que apenas o tratamento ambulatorial seja capaz de reverter o quadro do paciente. Se há interrupção do tratamento, joga fora qualquer avanço. “É difícil manter o paciente em tratamento ambulatorial. O paciente simplesmente não vai ao tratamento. A única forma de tratar o vício do crack é com a internação”, diz Jaber.

E aí surge outra explicação para os efeitos pífios das políticas públicas contra o crack até o momento: na rede pública de saúde o atendimento é apenas ambulatorial. Ou seja, o paciente chega, recebe os cuidados médicos e sai quando quer, sem receber o acompanhamento psiquiátrico necessário para reduzir as chances de, novamente, buscar a droga.

A chegada do crack à classe média já cria uma fila de espera para tratamento na rede particular. O crack não é mais droga de pobre. Clínicas particulares recebem com frequência pacientes de classe média que já foram retirados por suas famílias das ruas, de cracolândias. É muito triste. Essa turma do crack se vende por qualquer coisa, é um negócio deprimente.

Geralmente o usuário da classe média que se vicia em crack já usou maconha, álcool ou cocaína sem ficar dependente de imediato. Então acredita que tem um domínio e experimenta. Mas um fim de semana já é suficiente para se viciar. 30% dos que concluem o tratamento internado pela primeira vez não têm recaídas nos seis meses posteriores. Na cocaína, o índice é de 66% a 72% em 1 ano e 8 meses após a alta da clínica.

O tratamento é para sempre, o perigo é para sempre. É como nascer: depois que caímos no mundo, estamos condenados a viver nele. A única hipótese que nos tira do mundo é a que não queremos: a morte.

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