Alcoolismo, depressão, maternidade ainda adolescente e depois cegueira. Todos estes fatores poderiam ser um roteiro de uma tragédia brasileira, mas não no caso de Silvânia Costa de Oliveira.
Uma reportagem exibida pelo Jornal da Record dessa terça-feira, dia 24 de maio, mostra que o amor e a persistência dos pais e familiares juntamente com ajuda de profissionais e clínicas especializadas são fundamentais para a recuperação do dependente químico.
Um ano depois do Estado de Minas iniciar o acompanhamento por seis meses de 10 usuários de crack, rotina relatada nas páginas do jornal entre 12 e 15 de agosto de 2013, a reportagem reencontrou oito desses personagens e constatou que na guerra contra o vício as batalhas são extremamente difíceis, retratadas nos exemplos da maioria dos entrevistados. Entre tropeços e retomadas, seis pessoas ainda levam suas vidas alternando momentos de abstinência e abuso da droga, em um mundo de trevas e sombras típico de pelo menos 1,3 milhão de brasileiros, segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas referente ao ano de 2012. O dono de bancas de jornal Wagner, ex-interno da Clínica Terapêutica Quintino, é um deles.
Wagner
Dono de bancas de jornal, Wagner Patrocínio foi encontrado pela reportagem quando alternava a presença em uma cracolândia na Pampulha com momentos amparado pela mulher. Depois de seis meses acompanhado, Waguinho tentou fugir três vezes de uma clínica em Ribeirão das Neves e foi levado pela esposa, a funcionária pública e ativista de direitos humanos Ângela Chaves Pereira, para se tratar em Patos de Minas.
Depois de muita insistência, Ângela conseguiu internar Wagner em agosto, depois que ele estava havia um ano usando crack e praticamente vivendo na rua. A internação na Clínica Quintino foi involuntária, ou seja, contou com indicação médica, mas deu-se contra a vontade do paciente. A decisão de internar o marido à força trouxe ainda mais problemas para a esposa. “Ele ficou muito bravo comigo porque sabe que só eu posso tirá-lo de lá”, desabafa.
Ângela passou a ser chantageada por Waguinho a cada visita mensal e nos telefonemas autorizados pela clínica, onde ele ficará internado até janeiro. “Foi um tempo de estresse e de tensão. Ele me pressionando, e eu tendo que servir de escudo contra toda a revolta dele e as fissuras pela droga. Mas graças a Deus, em momento algum pensei em tirá-lo antes do tempo”, contou a uma amiga em uma rede social.
Hoje, abril de 2016, Wagner continua a viver em Belo Horizonte, mas bem longe das drogas e próximo do trabalho e da família.
Tratamento difícil
Para o médico Valdir Campos, da Comissão de Controle de Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, os insucessos no tratamento do crack podem ser explicados pela dificuldade de se obter tratamentos em rede. “A dependência química não pode ser vista só como uma questão biológica. Isso é parte do problema. Temos ainda o fator psicológico e as questões sociais, que interferem diretamente no problema”, diz o especialista.
Infelizmente, recaídas após períodos longos de internação ou mesmo depois de várias internações não são incomuns principalmente entre graves dependentes de substâncias psicoativas.
A síndrome de dependência de substâncias, como cocaína ou crack, é uma doença crônica e necessita de tratamento e monitoramento contínuos. Mesmo depois de internações, até aquelas por longos períodos, o indivíduo dependente não deve deixar de tratar-se ou mesmo de procurar atendimento especializado, bem como seus familiares.
Grande parte das recaídas começa com o álcool, com o suposto beber socialmente.
Sintomas de recaída
Pelo desespero e descontrole em que se encontra na vida, acha-se que beber irá ajudar a sentir-se melhor, a acalmar um pouco, dormir melhor etc. Começa-se a sentir que beber pode ser a única alternativa e que, do contrário, se continuar em abstinência absoluta, pode acabar ficando louco, cometer suicídio ou agredindo seriamente alguém muito próximo. Realmente, nesta perspectiva, beber parece uma alternativa saudável e racional.
Assim começa-se a achar que se pode beber normalmente, que pode se controlar. Alguns conseguem falar sobre estes pensamentos, tanto dentro como fora do tratamento, o que ajuda muito a prevenir a iminente recaída. Mas geralmente os pensamentos são tão fortes e secretos que não podem ser detidos, e o desfecho acaba sendo inevitável.
O que muitas vezes colabora com este quadro é que, se de fato beber, é possível que consiga controlar-se nas primeiras experiências, com a sensação de que não tem perigo algum, e assim se descuidar. Então logo o uso se torna novamente compulsivo, até chegar novamente às drogas.
Busque ajuda
Muitas vezes, devido ao consumo do álcool e/ou drogas, o usuário coloca em risco aspectos importantes de sua vida, tais como família, emprego e saúde. Além disso pode não perceber os problemas decorrentes deste uso ou mesmo negá-los. Nesses momentos, não é raro os membros da família apresentarem sentimentos de raiva ou impotência frente ao usuário ou à situação.
Essas ocasiões deveriam se transformar em buscas de ajuda, conversas com profissionais ou pessoas de referência na sua comunidade e adesão a grupos de ajuda e cursos.
O que fazer depois de ter certeza que seu filho realmente está envolvido com drogas.
Depois de mostrarmos no artigo anterior alguns sinais de que o seu filho pode estar usando algum tipo de droga, após esse alerta e todas os indícios se confirmarem, a melhor saída é partir para o diálogo. O primeiro passo que os pais devem fazer é tentar conversar e não acusar, porque isso fará com que o filho se afaste, e essa não deve ser a intenção dos pais.
O papel dos pais nesse momento deve ser o de instruir, o diálogo adulto e achar o tom certo para falar com o adolescente é essencial para faze-lo refletir se sentir-se pressionado ou cobrado pelos pais. É preciso que ele deseje mudar de verdade, que ele queira realmente ser ajudado. Nesse caso tanto o pai e a mãe precisam buscar informações sobre o tema, buscar ajuda profissional, entender as consequências e falar sobre elas com os filhos.
É importante também tentar entender o motivo de o filho ter recorrido às drogas, tentar descobrir se existe algum conflito ou algo mal resolvido, e mostrar que aquela saída não será a melhor, é preciso resgatar o seu filho e não afasta-lo.
O papel dos pais é de extrema importância para ajudar o adolescente a querer largar a dependência química, porém é preciso saber como conversar com o jovem sem que ele se sinta acuado e pressionado. Caso não saiba como conversar com o seu filho, o melhor a fazer é procurar ajuda profissional para encontrar a melhor maneira de ajudar o seu filho a sair das drogas.
Ex-usuário de drogas, Thiago dos Santos Pires, de 27 anos, venceu a batalha contra a dependência química e, vestido de garçom, hoje ganha a vida vendendo água mineral no sinaleiro que fica no cruzamento de duas avenidas movimentadas de Goiânia. Ele encontrou no trabalho a chance de recuperar a convivência com o filho de 4 anos, que, segundo ele, não o vê há pelo menos dois anos.
Usando camisa branca, gravata borboleta, calça e sapatos sociais, Thiago serve os clientes em uma bandeja areada, onde apoia o balde com as garrafas imersas no gelo, e lucra cerca de R$ 800 por semana. O pequeno jarro de flores sobre a bandeja traz sofisticação ao trabalho do vendedor que nunca soube o que é uma vida luxuosa.
“Eu comecei vendendo água vestido normal, de bermuda, camiseta, mas percebi que não rendia muito e, às vezes, até via um pouco de medo dos motoristas”, conta o jovem.
“Minha mãe é auxiliar de serviços gerais e sempre trabalhou muito pra dar o pouco que a gente, nove irmãos, tinha”, conta o jovem. Aos 16 anos de idade ele saiu de casa para ir em busca do pai, que até então não conhecia. A partir daí a vida dele “saiu dos eixos”, conforme diz.
“Foi nessa época que me envolvi com amizades que me fizeram afundar nas drogas”, conta Thiago, que passou a morar com o pai em Senador Canedo, na Região Metropolitana da capital. O jovem conta que, quando era usuário de drogas, esteve muito próximo de se tornar um criminoso.
“A gente entra num grau de dependência tão grande que eu comecei a me envolver com gente perigosa e quase fui aliciado pelo tráfico”, revela.
O vendedor lembra que alguns amigos tentaram ajudá-lo, o incentivando a procurar ajuda. Ele se submeteu a um tratamento de um mês em uma clínica de Goiânia e saiu acreditando que estava recuperado.
Após o tratamento ele conheceu a ex-companheira, com quem namorou 6 anos e teve um filho de 4 anos, o Yago, de quem ele fala com os olhos cheios de lágrimas. “O melhor presente que eu poderia ganhar era ele [o filho]”, diz emocionado.
Thiago conta que conheceu a ex-companheira em um pagode e chegaram a morar juntos nos três últimos anos do relacionamento. O casal se separou depois de uma recaída do jovem. Em meio à bebida e uso de cocaína, o vendedor teve um surto que fez a mulher se afastar, o proibindo de encontrar com o filho.
Depois desse episódio, o jovem morou quase seis meses na rua, gastando tudo o que tinha com drogas e completamente afastado da família. “Eu estava mendigando, completamente humilhado, pensei até em me matar”, desabafa. Thiago conta que a mãe sempre pegava cestas básicas em uma igreja católica da cidade e pensou em ir até lá buscar ajuda.
“Eu pensei, se eles ajudaram tanto a gente quando éramos pequenos, podiam me ajudar a sair dessa vida”, conta. Ele foi até à igreja. Lá, o convidaram para passar por um tratamento de reabilitação para combater a dependência química.
Segundo Thiago, foram 9 meses de um tratamento de saúde e espiritual. “Quando a gente passa por tudo isso, fica difícil a gente sozinho conseguir vencer, não existe força, tem que buscar em Deus”, disse. Ele recorda-se que, de dependente químico, passou a ser monitor do projeto e, livre das drogas, ajuda outras as pessoas a vencer o vício.
Sonho
Além do trabalho no sinaleiro, o jovem participa da Pastoral de Rua da igreja, onde ajuda a fazer comida para moradores de rua e famílias carentes. Thiago diz que sonha em um dia se tornar um chef de cozinha. “Desde pequeno eu cozinho. Comecei por obrigação, pra ajudar minha mãe a cuidar dos meus oito irmãos. Ainda vou estudar gastronomia”, revela o jovem.
Enquanto devolve dignidade à sua vida ganhando o próprio dinheiro com trabalho honesto, o vendedor já faz planos para um futuro que, para ele, está muito próximo de se tornar presente. “Não vai demorar muito, vou voltar a pagar pensão para o meu filho e dar pra ele tudo o que eu nunca tive, carinho de pai”, afirma Thiago.
Ouvindo o apelo de uma mãe desesperada em Uberlândia/MG que sofria há tempos com o filho alcoólatra, a Clínica Terapêutica Quintino fez o resgate e tratamento gratuito de seu filho, devolvendo-lhe a vida, em um caso que a mãe já não tinha mais esperanças. Depois de seis meses de internação, ele está de volta aos braços da mãe, totalmente recuperado. Confira o resultado.
Conheça a história de Joaquim Lima, um ex-dependente de crack e álcool que, após tratamento especializado, apoio da família, conseguiu superar totalmente a dependência, voltar a trabalhar e ter um vida normal.